Confidencias

Confidências
Marquinho Roberto e Renato Alvim

A protagonista da letra é uma mulher que renasceu para a vida amorosa após viver um relacionamento, já terminado há algum tempo, profundamente traumático. Seu antigo companheiro era, a princípio, amistoso e afável. Contudo, com o passar do tempo foi se tornando possessivo e controlador.

Nossa personagem tem, como todas as mulheres que merecem ser amadas e acabam o sendo, amorosidade, tolerância e paciência para aguardar que seus amados alcancem a maturidade emocional. Seu antigo companheiro, entretanto, era cego para estas virtudes e a via como submissa e infantil capaz de tolerar tudo que viesse dele. Afinal, ele se via como um parceiro sem par. Acreditava que ela, ou outra qualquer mulher, deveria se dar por satisfeita por tê-lo como companheiro. Ele se achava um príncipe, contudo, não passava de um sapo.

Quando nossa personagem conscientizou-se que estava malhando em ferro frio abandonou-o e deu início ao refazimento de sua vida. Muitos eram os pedaços a serem juntados. Muitas as questões a serem respondidas. Ela se perguntava: O que me fez dar tantas oportunidades a quem não merecia? Fui uma tola e fraca ou apenas uma mulher que amava e esperava as mudanças que não vinham? Quanto tempo vai durar meu luto? Conseguirei amar e me entregar, sem temores, novamente?

Em meio a esta convalescença ela tem em seu percurso um encontro para o qual não estava preparada, ainda. Encontra um homem leve, atencioso e doce. Era um homem que, por não ter plena consciência de si mesmo, vivia, como ela, as conseqüências de um relacionamento morto, porém insepulto. Eles eram destinados um ao outro, apenas se encontraram em momento inadequado. O tempo lhes seria favorável?

Os personagens passam a morar junto sem, contudo, viverem os seus tempos de luto pelos relacionamentos anteriores que haviam trazido dores distintas para cada um deles. Ele acreditava que um amor novo com aquela mulher apagaria por si só as dores mal resolvidas do amor antigo. Ela esperava que suas feridas cicatrizassem para expandir-se no amor novo. O desencontro era inevitável. À distância ela acompanhou o sofrimento dele. Ela sabia que não residia nela a causa da dor dele, mas, aquela dor a afligia impiedosamente. Reaproximar-se no estado em que ambos se encontravam era sepultar qualquer possível futuro. Ela entregou ao tempo a sua vida, a sua dor, a dor dele, e acalentou o desejo de que um dia houvesse um novo encontro, uma nova oportunidade, uma nova vida.

Um dia se reencontram e ela lhe conta os seus porquês. Fala das dores antigas, suas e dele, fala dos sonhos novos, da sua esperança de felicidade.

Olha nos olhos dele e lhe diz:

 

Queria ver cicatrizar seu peito

Pra aliviar a minha grande dor

Bem que tentei ter o amor de volta.

Estava presa a um velho rancor,

Vazia, fria, mal querida e nua

E você cuidou.

 

Lembro que mordia fria aquela boca

Pra apagar o falso beijo do perdão

E zombar daquele tolo que me via

Como um brinquedo nulo de paixão.

 

Quem dera o tempo permitisse volta

Já estou livre pra viver sem dor

Quisera hoje ir àquela porta

Que me levasse pra você amor.

O tempo cura os desesperados

O medo que eu tinha já acabou.

Agora vejo que a velha ferida

Já cicatrizou”