Flor Vermelha

Flor Vermelha
Márcio Proença e Marcus Lima

Esta letra me traz à mente uma palavra: partenogênese, que é a geração de um ser vivo sem que este seja fecundado por um outro ser. Não sinto que, necessariamente, uma mulher ou um outro amor fez com que a flor vermelha, o coração do poeta, fosse regenerado.
É lindo ver que aqui ocorre a reformulação da vida emocional de uma pessoa sem a ingerência, ou suavizando, o acompanhamento passo a passo por outrem. É claro que houve outra pessoa. Porém me parece que foi uma pessoa que ajudou e passou. Não permaneceu para desfrutar ou compartilhar. Quem sabe esta pessoa “que apontou a luz” nem mesmo percebeu o que proporcionou.
A lenda da fênix me vem ao coração e me mostra que refazer-se é sempre possível. E quando ocorre é maravilhoso.

As linhas 1 a 3 são reveladoras ao dizerem: “Na minha estrada escura você foi o raio claro que me apontou a luz por onde eu vim”.
O protagonista estava, temporariamente, numa estrada escura. Qual a razão desta estrada estar escura nesse momento? Não se pode saber. Talvez nem ele mesmo soubesse. Quem pode saber a razão do percurso do sofrimento? Um estado de “escuridão” é, normalmente, a soma de tantos pequenos equívocos acumulados que esses se perdem numa trama sem começo e do qual só se conhece o fim: a própria “estrada escura”.
A beleza está em ele dizer: “Você foi o raio claro que me apontou a luz por onde vim”. Essa consciência de se saber mais, do que o estado em que se está em dado momento, é a alma da música. Aqui reside a força da letra e da melodia que devem se fundir nesse ode à vitória de quem se reconhece, se enfrenta e com um lampejo de ajuda (quem foi o raio de luz), volta mais fortalecido do combate interno, existencial. Genial a letra, linda a melodia.

As linhas 4 a 8 narram o que esse caminhar sofrido e solitário pode propiciar ao lutador, ao que enfrenta e vence suas limitações. Ao que reconhece que ser menor num momento e o passo suficiente para se tornar grande no momento seguinte. É o prêmio por persistir no auto-enfrentamento. Na luta perene.
“E no peito triste (até aquele momento) se abriu a flor vermelha (o coração do poeta que ressurge das cinzas, do morrer para reviver, do trasnformar-se, no vir a ser) nasceu de novo o amor dentro de mim (a consciência de que o amor que estava adormecido despertou mais uma vez, numa nova aurora) e toda a velha dor fica até fugas quando a vermelha flor dentro se refaz (é a capacidade de amar-se e de amar que é rediviva). Lição de vida. Exemplo a ser seguido. Poesia de vida a ser cantada com a simplicidade dos mestres que ensinam, distraidamente.

Linhas 9 a 11: “E por estar feliz deixa eu chorar em paz. Pois sei que não vou chorar mais”. Este contraste poético entre um choro de dor e angústia, passado e outro de leveza e de louvor, presente, é o fecho de ouro para uma pérola de canção. Lindo.

A interpretação para esta música pode ser resumida a um sentimento. O mesmo presente numa ação de graça. Numa prece de agradecimento pela graça se orou com fervor. A palavra que me vem é: embevecimento. É cantar com a mesma atitude de um bebezinho que recebe nos lábios o leite materno.
Flor Vermelha
Márcio Proença e Marcus Lima

Na minha estrada escura
Você foi raio claro
Que me apontou a luz por onde eu vim.
E no meu peito triste
Se abriu a flor vermelha
Nasceu de novo o amor dentro de mim
E toda velha dor fica até fugas
Quando a vermelha flor dentro se refaz
E por estar feliz
Deixa eu chorar em paz
Pois sei que não vou chorar mais.